Passar de tarefeiro a trabalhador profissional

Pôr os pobres a executar toda e qualquer tarefa, desde que a mesma tenha uma suposta utilidade, sempre foi o projeto das sociedades onde o rendimento e a eficácia passam à frente do ser humano.

Esta maneira de conceber o ser humano como sendo forçosamente trabalhador, custe o que custar, justificou, ao longo dos tempos, todas as escravaturas, alienações e exploração do homem pelo homem.

É por causa desta conceção que o pão depende do trabalho, que o suor e o esforço penoso serviram para construir uma sociedade cuja finalidade não é o ser humano.

Foi esta conceção do ser humano como trabalhador, munido dum emprego, duma atividade que progressivamente destruiu a estrutura moral e espiritual das nossas sociedades modernas. (…)

“Ser livre pelo trabalho” foi o ideal proposto pelas sociedades liberais. Fazendo eco disso, os regimes totalitários responderam-lhes: “Só o trabalho te salvará.” Assim, o reconhecimento, o respeito pelo ser humano, pela sua dignidade não tiveram influência alguma na evolução atual.

Trabalhar? Sim. Ser útil? Sim. Contribuir com a sua quota-parte no progresso? Não. Pois, para isso, teria sido necessário ser reconhecido como um trabalhador munido de uma identidade conferida por um ofício aprendido, munido de uma liberdade garantida por uma profissão, por uma competência reconhecidas. Para isso, teria sido necessário que você fosse tido em consideração, não porque trabalha, mas sim porque o seu trabalho o valoriza.

Teria sido necessário não ser intermutável, não ser uma espécie de tapa-buracos utilizado ao sabor do arbitrário, ao sabor da conjuntura. Teria sido necessário ser considerado como alguém que, graças ao seu ofício, pode ser reconhecido pelos seus próprios filhos, pode ser apreciado no seu próprio meio. Teria sido necessário ser considerado como alguém capaz de lutar num sindicato, em pé de igualdade com os outros trabalhadores merecendo também ser defendido por eles.

O que nos torna livres não é o trabalho, mas sim a dignidade que ele nos confere. Se o subproletariado é rejeitado, isso deve-se ao facto de pertencer àquela fração da classe operária que não possui um ofício, uma profissão reconhecida. Isto deve incitar-nos a lutar, para que todo o ser humano tenha um ofício, uma competência, para que todo e qualquer jovem adquira uma formação adequada ao seu tempo.

Não há outra via para destruir a condição do subproletariado.

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